APARTAMENTO 105 sul, BRASILIA

A SQS 105 é uma das quadras mais antigas e emblemáticas do Plano Piloto. A construção dos 11 edifícios habitacionais projetados por Hélio Uchoa, discípulo de Lucio Costa, ocorreu no início das obras da capital, erguida pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – IAPI. É a única quadra de Brasília com todos os prédios perpendiculares ao Eixo e paralelos entre si, dispostos para uma adaptação ao terreno e teve o primeiro apartamento pronto da capital, que serviu como residência-modelo decorada para visitação.

Os acabamentos originais dos blocos são finos: mármore branco nacional no pilotis e as fachadas principais receberam esquadrias e venezianas de madeira, tipo guilhotina. Na fachada posterior estão cobogós de cerâmica com recortes quadrados em concreto que emolduram a paisagem.

Assim como nas fachadas, as soluções em planta dos apartamentos lembram os já utilizados por Lúcio Costa no Parque Guinle do Rio de Janeiro, apresentando uma espacialidade fluida, coluna circular no estar e atmosfera art decô. O objetivo para esta reforma é resgatar elementos essenciais que caracterizam o espírito do apartamento, propor novos revestimentos que harmonizam com os materiais originais e ajustar espaços para a vivência contemporânea respeitando o conceito proposto por Hélio Uchôa.

Encontramos o apartamento totalmente descaracterizado pelas reformas de anos anteriores. Além das soluções espaciais originais, resgatamos também revestimentos como o piso de peroba em parquet tipo dama, os peitoris de mármore branco em todos os espaços, voltamos a concepção original da planta com dois banheiros espelhados no hall dos quartos e eliminamos o gesso no teto que reduzia a altura dos ambientes.

Originalmente os quartos voltados para o cobogó cerâmico e a área de serviço apresentavam pequenas esquadrias quadradas que coincidiam com o recorte de concreto e janelas basculantes em linha acima. Para valorizar os cobogós, as vistas e aprimorar a iluminação e ventilação natural, eliminamos as paredes até a altura de um banco e adicionamos esquadrias deslizantes até o teto.

A sensação é de caminhar em uma casa de vidro, com vistas livres e arborizadas nas principais direções. As esquadrias guilhotinas de madeira já haviam sido substituídas pelo condomínio por folhas de alumínio deslizantes com dois trilhos. Refizemos a esquadria com 5 trilhos para permitir abertura completa e transformar o estar numa varanda suspensa com vista para o verde.

O quarto de empregada e a área de serviço foram integrados à cozinha e o espaço destinado ao banheiro de serviço virou depósito. O conceito de paredes em planos soltos são mantidos e destacados pelos rodapés invertidos que percorrem todos os espaços e fazem as paredes "flutuar". As portas recebem portais metálicos que dispensam alisares e a porta de entrada translúcida permite a luz entrar no hall de acesso. A ampliação da cozinha possibilitou um uso mais lúdico com uma mesa de refeição e apoio e uma rede indígena na área de serviço. A cor do piso de ladrilho hidráulico tem continuidade cromática com o verde da paisagem. As paredes seguem a cor branca original que destaca obras de arte, mobiliário e a paisagem. Os banheiros sem janelas sugerem o momento de introspecção e são revestidos com pedra água marinha no piso e parede seguindo a mesma paginação da cerâmica original. A ideia é ter a sensação de entrar numa caverna subaquática.

Todos os espaços recebem peças desenhadas por Samuel Lamas. O mobiliário é caracterizado por uma mistura de peças originais de mestres brasileiros e internacionais e assim como obras de arte, foram garimpadas e refletem a história do morador.