APARTAMENTO TEIXEIRA, BRASÍLIA

"Esqueça a lógica por um instante e imagine encontrar os artistas plásticos Siron Franco, Ayao Okamoto e Patricia Secco reunidos num mesmo lugar. Talvez estivessem sentados em cadeiras de Philippe Starck, num banco de Maurício Azeredo ou apoiando taças numa estante de Renzo Piano. Renzo, aliás, também estaria ali, conversando animado com Fernanda Naman sobre a beleza dos cristais Kosta Boda, enquanto Daniel Senise alterna o olhar entre a tela de Leonilson e a vista da janela, descansando sobre a chaise assinada por Elizabeth Garouste e Mattia Bonetti. De volta à realidade, sabemos que um coquetel como esse só poderia acontecer em um lugar: na Asa Sul de Brasília, onde vive – pelo menos temporariamente – o diplomata João Marcelo de Aguiar Teixeira, que soube garimpar obras preciosas dos nossos convidados imaginários.

Ao receber a liberação do apartamento funcional de quatro quartos distribuídos em 210 m², João Marcelo chamou o arquiteto Samuel Lamas para transformar o espaço compartimentado em uma morada mais aberta, capaz de acolher sua rotina e suas peças de arte e design. “Minha casa é um retrato da minha trajetória profissional e pessoal”, avalia João Marcelo, de volta ao Brasil depois de viver em Paris, Estocolmo, Roma, Lima, Montevidéu e Caracas.

“Encontramos o apartamento descaracterizado, com a pintura amarelada, sancas e rodapés de um gosto um tanto duvidoso”, lembra Samuel, que foi do projeto à entrega em cerca de três meses, período curto para o tanto de mudanças executadas ali. Vale destacar que em apartamentos funcionais, reformas e benfeitorias ficam a cargo dos servidores que ocupam o endereço e, ao devolver o imóvel, ele deve estar em condição equivalente à de quando foi recebido.

Com a reforma planejada por Samuel, o antes fechado apartamento se transformou em um loft, com dois dos quatro quartos incorporados à área social, e o terceiro, à suíte. De onde se olha, agora, é possível encontrar uma obra de arte de algum dos artistas nacionais da prolífica Geração 80. As peças de mobiliário também merecem atenção, já que passeiam entre a renascença, época de criação do enorme espelho italiano da sala, o modernismo de Mies Van der Rohe, Jorge Zalszupin e Josef Frank, e a contemporaneidade de Philippe Starck, Renzo Piano e Maurício Azeredo. Praticamente uma galeria.

Paredes eliminadas, restou atualizar o banheiro principal, maltratado pelo tempo. Para tornar a obra mais econômica, retalhos de mármore substituem com graça as chapas inteiriças, que custam seis vezes mais caro. Os armários originais foram pintados de branco. No closet, ambiente vizinho, o piso agora é um tapete felpudo, superconfortável ao toque – as réguas de madeira que haviam ali foram aproveitadas nos vãos das paredes que foram ao chão. Sustentabilidade levada a sério. Quando João Marcelo for desocupar o endereço, bastará fechar os trechos de paredes antigas para retornar o loft ao modelo original de quatro dormitórios. Só resta saber onde será o próximo coquetel imaginário." Via Morar 61